domingo, 10 de fevereiro de 2008

a ditadura da beleza

A beleza está directamente ligada à cultura de um povo e varia segundo suas caracteristicas sociais e económicas. O homem sempre esteve à margem dos valores da beleza fisica, justamente por possuir poder, pois quem possui poder atrai sem ser belo.
A mulher foi e continua a ser a grande vítima da beleza. Como ela não possui poder político, económico e militar, necessita se afirmar e se fazer notar e usa para isso o proprio corpo!


Por um longo período da nossa história, mulheres gordas eram consideradas atraentes. Ser gorda ou robusta era sinónimo de boa alimentação e consequentemente de riqueza. Nos anos 60, com a popularidade do cinema, televisão e o aparecimento da revista Playboy, o valor da beleza sofreu uma revolução: o corpo da mulher que até então esteve coberto por longos vestidos, foi mostrado pela primeira vez, completamente nu. Com a nudez feminina, surgiu também a mulher objecto.
Com o advento da pílula anticoncepcional, o rock’n roll e os hippies, o valor da beleza alterou-se mais uma vez: como o corpo humano estava à mostra e a liberdade sexual era uma realidade, ser magro passou a ser sinónimo de beleza.


Nos ultimos vinte anos, lentamente a beleza tem-se associado a juventude. Hoje não basta ser magro e belo, tem que se ser jovem. Anteriormente a beleza era associada à mulher adulta e ao seu status social; consequentemente ao poder económico. Uma adolescente depende economicamente da família e poderia possuir a beleza fisica, mas não possuía o mais importante: a magia do poder económico.

Com o planeta uniformizando tendências e globalizando a cultura e a economia dos povos, o padrão de beleza também se globaliza. Nas passerelles de moda da Europa, os maiores exportadores de vestuário do planeta, a magreza e a beleza adolescentes são sinónimos do modelo de beleza a ser seguido. É incoerente associar a adolescente magra a um padrão de beleza mundial. A jovem adolescente não é produtiva e nem autónoma pois ainda frequenta a escola e depende economicamente da família. Sendo assim, não possui autonomia para comprar os vestidos, sapatos, bijouterias e óculos , etc. Mas o mercado insiste em mostrar as publicidades de vestuário e produtos femininos só com adolescentes como protagonistas, quando quem compra é a mulher que trabalha, que tem autonomia económica e já não é adolescente. Esta incoerência absurda do modelo actual da beleza feminina foi criada e alimentada pelo mercado mundial da moda. Hoje são os mercados a ditar o padrão de beleza a ser seguido gerando frustrações e gastos sem fim, pois para ser bela a mulher deve permanecer jovem.

Como as mulheres normalmente estão fora do padrão anoréxico das passarelas, elas precisam de estar sempre em dieta e com isso compram emagrecedores, produtos que acabem com a celulite, compram ténis, roupa desportiva e estão sempre à espera de um milagre que as faça perder alguns quilos.
Para demonstrar a beleza da juventude, as mulheres gastam milhões de dólares por ano em todo o planeta. São milhões em perfumes, cremes rejuvenecedores, cremes anti-rugas, hidratantes que prometem milagres, bálsamos e tintas que prometem cabelos brilhantes em minutos. A maquilhagem que muda a cada estação e com a mudança as mulheres precisam de comprar as cores ditadas para aquela estação. Pôr no fundo da gaveta os batons encarnados porque agora a moda é usar o baton cor de rosa. Esquecer as sombras azuis porque a moda exige outros tons.
Para seguir as tendências ditada pelos fabricantes de vestuário europeus, a cada estação as mulheres precisam de comprar novos vestidos, novos sapatos e novas bijouterias. Comprar e comprar sem parar.

Todas essas “necessidades” femininas criadas artificialmente pelo mercado europeu geram milhões de empregos em todo o planeta e o mercado não pode parar. Criando em continuação necessidades novas a ser consumidas a cada estação pelas desesperadas mulheres ansiosas de demonstrar juventude eterna e magresa absoluta.
Enquanto as mulheres estão preocupadas em parecer eternamente jovens, belas e magras, os homens estão preocupados em incentivar e manter o modelo de mercado económico que criaram. Esse círculo sem fim voltado à banalidade feminina nao atinge os homens, que preferem a fogueira das vaidades do poder.

Com a magia do poder absoluto, eles podem se dar ao luxo de envelhecer, estar sempre acima do peso ideal e nem se preocupam quando os cabelos brancos aparecem com as primeiras rugas. Afinal, quem tem poder precisa ser belo?

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